1 de jan. de 2014

Treinamento psicológico e técnicas para a melhora da motivação de atletas
Introdução
 É comum no esporte de hoje em dia, atletas de alto nível técnico não obterem os resultados desejados em suas competições. Acredita-se que isto ocorre por muitos motivos, como: o nivelamento dos atletas, a exigência e pressão por resultados positivos, entre outros, por isso, cada vez mais se busca aprimorar e desenvolver novas técnicas. Dentre elas existe o treinamento psicológico, que vem se mostrando, com o passar dos anos, uma ferramenta muito útil para a obtenção de resultados no esporte. Segundo Becker Jr. (2002), a utilização de técnicas de treinamento psicológico possibilitam aprender, variar e aperfeiçoar as capacidades cognitivas. Dentre elas existe a motivação, um fator chave para o desenvolvimento do interesse e auto-estima do atleta. Segundo Roberts (1995), a motivação tem um papel muito importante na vida das pessoas, mas, lamentavelmente, um fator pouco entendido no meio prático.


    No esporte são exigidas muitas capacidades dos atletas e infelizmente muitos profissionais ainda não têm o interesse em trabalhar o fator psicológico do atleta de uma maneira contínua, a fim de melhorar ainda mais sua performance. Segundo Weinberg e Gould (2001), por muitas vezes o treinamento psicológico é negligenciado por falta de conhecimento, percepção, falta de tempo ou à idéia de que as habilidades psicológicas são inatas ao ser humano e não podem ser treinadas. Becker Jr.(2002) ressalta, que o treinamento psicológico e o treinamento físico deveriam desenvolver-se juntos, até a formação de uma unidade, sendo que os programas de treinamento dos atletas devem levar em conta e integrar ambas as formas de maneira bem distribuída. O presente estudo pretende esclarecer a questão prática da motivação, com o auxilio de técnicas de treinamento psicológico.

Treinamento Psicológico
A incessante busca por fama, dinheiro e resultados milagrosos, fazem com que algumas pessoas não se beneficiem com os aprendizados de um treinamento psicológico sério. Felizmente o treinamento psicológico vem aos poucos recebendo uma atenção especial da área científica nos últimos anos. Mais, especificamente, a área esportiva está aderindo às mais variadas técnicas de Treinamento Psicológico, tanto para melhorar fatores psicológicos, quanto aperfeiçoar habilidades físicas de atletas. Além dos resultados positivos que alguns estudos trazem, treinadores e psicólogos estão provando para o mundo que, além do treinamento físico, o treinamento psicológico também é imprescindível para a obtenção de resultados no esporte.

Estudos sobre o Treinamento Psicológico

    Em um estudo científico, Scalon et al (2004), concluiu que o treinamento mental (uma das técnicas de treinamento psicológico) é uma variável importante tanto para a melhora da performance, quanto para a aquisição de habilidades motoras. O Treinamento Mental deve, também, ser planificado e bem planejado, respeitando a individualidade biológica e psicológica de cada atleta.

    Segundo Becker Jr. (2002) o treinamento psicológico proporciona ao atleta a aprendizagem, manutenção e aperfeiçoamento psicofísico. Para Perez (1995), o objetivo do treinamento psicológico é melhorar as habilidades psicofísicas que influem no rendimento esportivo, bem como nos protagonistas do meio (esportistas, treinadores e etc.). Essas habilidades são:


  • Organização da carreira esportiva;
  • Automotivação;
  • Confronto de situações estressantes;
  • Controle da tensão;
  • Adaptação às cargas de treinamento e mudanças ambientais.


    Nitsch (apud BECKER JR., 2002 : 14) afirma: “o objetivo e a meta do Treinamento psicológico é a modificação dos processos e estados psíquicos (percepção, pensamento, motivação), ou seja as bases psíquicas da regulação do movimento. Essa modificação será alcançada com a ajuda de procedimentos psicológicos”.

    Através de medidas psicológicas de treinamento, os objetivos finais podem ser alcançados. Estes objetivos são (Becker jr.,2002):


  • Auto- regulação da atividade;
  • Influência sobre a habilidade;
  • Manejo da auto-imagem;
  • Recuperação e reabilitação do atleta;
  • Motivação.


    O aumento da motivação se dá a partir de técnicas de preparação psicológicas. Em seus estudos, os autores Bandura, Duncan e Mcauley (apud BECKER JR, 2002), mostram resultados similares ao constatarem que técnicas de visualização incrementam o nível de motivação do atleta. Porém um fator importantíssimo nas sessões de imaginação é o conteúdo das mesmas. Bandura, sugere que a visualização seja positiva, contendo situações de êxito, para que a motivação aumente.

Motivação no esporte
    Que motivos levam o atleta alcançar seu objetivo ou se empenhar mais? Essa é uma questão muito individual e deve ser tratada como tal. Um treinamento psicológico, voltado para a motivação, pode ser a chave para que o atleta se automotive. Este trabalho motivacional só acontece com a boa vontade do atleta e a boa estruturação das sessões de treinamento, de preferência, individualizada. (BECKER JR, 2002).
    Alguns autores ressaltam questões referentes à motivação:
  • Perez, (1995 : 121): “Estar motivado é querer obter um bom rendimento e fazer o máximo possível para consegui-lo.”
  • Roberts, (1995 : 31): “...a motivação se refere a aqueles fatores de personalidade, variáveis sociais ou cognitivos que entram em jogo quando uma pessoa realiza uma tarefa a qual está sendo avaliada, entra em competição com outros e tenta expressar um certo nível de exigência.”
  • Becker Jr (apud SCALON, 2004 : 23): “...fator muito importante na busca de qualquer objetivo.” , “...assim sendo, a motivação é um elemento básico para o atleta seguir as orientações do treinador e praticar diariamente as sessões de treinamento.”
  • Heckhausen (apud SCALON, 2004 : 23): Motivação é um processo em busca de melhora ou manutenção da própria capacidade em todas as atividades, nas quais existe uma norma de qualidade (onde se pode medir qualitativamente o próprio empenho) e a execução pode levar ao sucesso ou fracasso.

    A motivação é um dos pontos determinantes para o sucesso ou o fracasso de uma carreira esportiva. O atleta com motivação elevada, treina com mais entusiasmo, obtém melhora nos gestos motores, ganha confiança em si mesmo e, conseqüentemente, tem mais chances do que atletas despreparados física e mentalmente. Ganhando, o atleta volta a se motivar e treina com mais entusiasmo, começando tudo outra vez. A partir deste pensamento, podemos visualizar o seguinte círculo virtuoso:


    Para que o círculo virtuoso da motivação não se quebre, o treinamento psicológico contínuo e periódico deve merecer uma atenção especial na vida do atleta, sendo encaixado e bem estruturado na rotina esportiva do mesmo.
Motivação interacional
    Segundo Weinberg e Gould (2001), a motivação interacional é a visão de motivação mais aceita por psicólogos do esporte e do exercício. Ela é composta por dois fatores: fatores pessoais e fatores situacionais. Esta visão estabelece uma relação entre os fatores tratando-os de uma forma conjunta sem isolá-los. Nesta visão os fatores pessoais e situacionais juntos resultam na motivação do atleta. Veja o quadro abaixo (Weinberg e gould, 2001 : 75):
    O treinamento psicológico pode adicionar, melhorar, e/ou treinar os fatores pessoais do indivíduo, porém os fatores situacionais dependem muito mais da vontade e disposição dos envolvidos (treinadores, colegas, etc.), do ambiente (condizente com o desporto) e dos recursos que para ele são oferecidos (materiais, instalações, opções, etc.). Estes fatores integrados pressupõem uma grande chance de manutenção e treinabilidade da motivação de uma maneira duradoura e vitoriosa.

Princípios do Treinamento Psicológico
    Seiler e Stock (apud BECKER, 2002) destacam que antes da aplicação de qualquer técnica de treinamento psicológico, é necessário condições para que o aprendizado ocorra da melhor forma possível e com resultados expressivos; são os chamados Princípios do Treinamento Psicológico :
  • Iniciativa própria: A decisão de participar de um programa de treinamento psicológico é somente dos próprios atletas, não sendo imposta por terceiros.
  • Compreensão: O atleta deve entender todo o processo de seu treinamento. Conhecendo e se acostumando com a técnica, ele se envolve e se empenha, adquirindo uma vontade pessoal em atingir o objetivo.
  • Confiança: A partir da confiança no sentido e objetivo do treinamento psicológico, a chance de êxito é muito maior.
  • Individualidade: As mais diversas técnicas de treinamento psicológico devem respeitar a personalidade, experiências e posicionamentos dos praticantes, por isso deve ser concebida de forma personalizada.
  • Disciplina: Aspectos como, regularidade, continuidade e conseqüência, devem ser incluídos para que o treinamento seja submetido a um sistema organizado e duradouro.
  • Métodos: A partir dos primeiros efeitos do treinamento, ele passa a ser usado permanentemente em competições.
  • Economia: Treinar o mínimo possível com o máximo rendimento.
  • Integração: A integração do treinamento físico junto ao treinamento psicológico de forma bem distribuída.
  • Aconselhamento: Com o tempo os atletas podem usar as técnicas sozinhos, mas é sempre bom um aconselhamento de um profissional habilitado para quando necessário.
  • Sucesso: É um conjunto de fatores que leva ao sucesso. O treinamento psicológico é apenas um dos fatores e não é milagroso. Não adianta o atleta não estar bem fisicamente, por exemplo.
  • Transferência: Assim como o treinamento psicológico influencia numa série de fatores para a melhora esportiva, este serve para outra situações da vida diária, tais como: exames, entrevistas, reuniões, etc.
    À seguir, algumas das técnicas mais utilizadas no meio esportivo para a melhora da motivação.

Auto-motivação
    Segundo Samulski (apud RUBIO et al, 2000 : 80): “Sobre técnicas de motivação compreende todas aquelas medidas que uma pessoa aplica assumindo o controle sobre seu próprio comportamento, para regular seu nível de motivação”.
    O treinamento de Auto-motivação se divide em três técnicas: Cognitivas, motoras e emocionais.
    Técnicas Cognitivas (RUBIO et al, 2000 : 80):
    Abrange as funções psíquicas como percepção, imaginação e memória. Por meio de processos avaliativos, determinações de metas pessoais, atribuição de causas e auto-afirmações, os praticantes modulam seu estado motivacional atual.
    Esportistas de alto nível beneficiam-se das técnicas abaixo:
  • Imaginar as capacidades positivas;
  • Imaginação de metas concretas;
  • Estabelecer e modificar metas;
  • Auto-afirmação;
  • Antecipação do reforço externo.
Técnicas Motoras (RUBIO et al, 2000 : 82):
    Alguns atletas atuam contra o desânimo e a falta de motivação utilizando processos de movimentação. Em outros casos, a participação na organização e realização do treinamento também é uma técnica motivadora para alguns.
Técnicas Emocionais (RUBIO et al, 2000 : 82):
    Alguns atletas estimulam-se por meio de emoções positivas durante o exercício e até por estímulos musicais para criar um estado emocional agradável. Existem reações/emoções estudadas como resultados das técnicas emocionais:
  • Flow-feeling (sensação de fluidez): domínio total de seus movimentos durante a partida.
  • Winning-feeling (sensação de vitória): Sensação de sucesso durante a atividade. O atleta sente-se envolvido e completamente focado em seu objetivo.
  • Group-feeling (sensação de união do grupo): Clima emocional positivo e união do grupo em torno de um objetivo e a satisfação dos membros desse grupo.
Monólogo interno
    Ryle (apud BECKER JR, 2002) conceitua a técnica como uma conversa interna do praticante consigo mesmo, objetivando modificar estados emocionais presentes. Van Noord (apud BECKER JR., 2002) complementa: “o monólogo interno vai desde experiências encobertas, silenciosas, até vocalizações com voz baixa, expressões treinadas para mobilizar o potencial psicofísico do atleta”.
    Schwartz (apud BECKER JR., 2002) verificou que sujeitos que apresentam problemas emocionais, passam 50% de seu tempo repetindo uma fala interna negativa e que nesses casos é necessária a modificação dessa fala silenciosa e não uma simples adição de palavras positivas.
    Efeitos do Monólogo interno, segundo Becker Jr. (2002 : 81):
  • Bloqueio dos pensamentos negativos;
  • Aumento do número de pensamentos positivos;
  • Aumento da confiança;
  • Modulação da ativação;
  • Melhora das condições para tomada de decisão;
  • Aumento da motivação;
    O monólogo interno focado no aumento da motivação é caracterizado por pensamentos de auto-afirmação, auto-instrução ou pela mentalização positiva do movimento que envolve a ação. Por exemplo, em uma situação de pênalti no futebol, tanto o batedor, quanto o goleiro, devem mentalizar pensamentos de sucesso na definição da jogada. Isso acarretará num incremento de motivação aumentando a chance de êxito.
    Quanto à duração e freqüência das sessões, é muito importante a total consciência do atleta, pois o monólogo interno é praticado individualmente, e portanto, cada atleta aprende a usá-la e controlá-la quando necessário.

Estabelecimento de metas
    Esta técnica consiste em traçar as metas verdadeiras de cada atleta, para que o mesmo tenha sempre em mente seus objetivos, permanecendo focado e motivado nas atividades esportivas por mais tempo. Segundo Perez (1995), além de se traçar os objetivos, o treinador e o atleta poderão direcionar o trabalho para alcançar de maneira mais eficaz as metas almejadas.
    Segundo Weinberg e Gould (2001), as pessoas não tem dificuldade para traçar objetivos, mas, sim, em estabelecer metas efetivas, realistas e criar um programa para atingí-las. Assim sendo, temos três tipos de Metas objetivas:
  • Metas de resultado: Focalizam-se normalmente em resultados competitivos de eventos, bem como vencer um torneio, uma corrida ou ganhar uma medalha. Nesse caso, o resultado não depende só do atleta mas sim, dos adversários e outros fatores externos imprevisíveis.
  • Metas de desempenho: são metas que dizem respeito somente ao atleta sem levarem em consideração outros fatores como, adversários. É a típica comparação do desempenho próprio, onde se compara os resultados anteriores do atleta, por exemplo, em treinamentos.
  • Metas de processo: São ações praticadas durante o desempenho para atuar bem. É como se fosse uma mini-meta, com o fim de alcançar um objetivo maior. Um nadador, por exemplo, pode pensar em manter a propulsão de pernas fortes para ter mais velocidade no nado.
    Existem também as chamadas “Metas Subjetivas”, que são as metas globais do indivíduo. Estas metas são muito importantes porque alguns atletas têm muitas aspirações e querem realizar muitas coisas ao mesmo tempo. Porém, traçando metas subjetivas ou globais eles selecionam as prioridades visando o objetivo maior, sem perder tempo com outras metas menos importantes.

Feedback motivacional
    O feedback não é uma técnica de treinamento psicológico propriamente dita, porém ela pode ser direcionada para este fim, além de ser uma alternativa muito eficaz na detecção de várias sensações percebidas pelos atletas nas vivências esportivas. Williams (1991), define feedback como uma ferramenta para obter informações sobre a qualidade da execução da atividade.
    O feedback é muito interessante porque é uma troca de informações dos dois lados, do técnico para o atleta e do atleta para o técnico. Um feedback bem realizado revela emoções, preferências e descontentamentos dos atletas, nos possibilitando detectar seu nível de motivação para posteriormente prestarmos um atendimento mais próximo e mais efetivo. Para Williams (1991), o feedback é o fator mais eficaz para o controle da aprendizagem e, que, sem ele não existe aprendizagem. Quando um feedback mostra uma melhora de rendimento do atleta, mesmo esta sendo pequena, já serve como uma técnica motivadora.
    Weinberg e Gould (2001), definem a importância do chamado “feedback motivacional” destas três maneiras:
  • Serve para dar um referencial de rendimento ótimo;
  • Reforço, estimulando sentimentos dos atletas;
  • Serve como controle de metas, (se elas estão sendo alcançadas).
Conclusão
    Conclui-se que o treinamento psicológico, de uma maneira geral, serve muito para a melhora do rendimento de várias habilidades psicológicas e físicas, porém, desde que sejam levados em consideração vários fatores, como a própria decisão do atleta em participar de um programa de treinamento desse tipo e o bom preparo do profissional que o acompanha.
    Mais especificamente, o treinamento psicológico voltado para a motivação vem trazendo muitos resultados positivos e ajudando muitos atletas a “sobreviverem” neste mundo competitivo, estressante, mas apaixonante, que é o esporte de alto nível. O treinamento psicológico é uma área que precisa ser mais difundida no esporte e mais incentivada no meio científico, para que todos cresçam e se beneficiem de seus vitoriosos resultados.

Referências

  • BECKER JR., B e SAMULSKI, D. Manual de treinamento psicológico para o esporte. Novo Hamburgo: Feevale, 2002.
  • MOSQUERA M., J. J. Psicologia do desporto. Porto Alegre: Ed. Da universidade, UFRGS, 1984.
  • PÉREZ, G; CRUZ, J. e ROCA, J. Psicología y deporte. Madrid: Alianza Editorial, 1995.
  • ROBERTS, G. C. Motivación en el deporte y el ejercicio. Bilbao: Biblioteca de psicología, 1995.
  • RUBIO, K.(org.) Encontros e desencontros: descobrindo a psicologia do esporte. São Paulo: 2000.
  • SCALON, R. M. (org.). A psicologia do esporte e a criança. Porto Alegre: Edipucrs, 2004.
  • SCALON, R. M. e SOUZA, A. P. S. O treinamento mental como uma variável significativa na performance de atletas e na aprendizagem de habilidades motoras. Buenos Aires: Revista digital, E.F.Deportes.com, Nº 75, 2004.
  • Weinberg, R. S. e GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Porto Alegre: Artmed, 2001.
  • Williams, J. M. Psicologia aplicada al deporte. Madrid: Biblioteca nueva, 2001.
Fonte: efdeportes

11 de dez. de 2013

A importância do treino teórico
Uma proposta de jogo bem definida é fundamental para que a equipe consiga ter uma evolução mesmo com tempo de treino bastante reduzido


O calendário do futebol brasileiro tem dificultado muito a preparação das equipes na questão treinamentos. Para as equipes que disputam o Campeonato Brasileiro das séries A e B, com os Estaduais no início da temporada, os treinamentos com tempo para desenvolver e melhorar o grupo estão cada vez mais difíceis. É uma competição seguida da outra.

Assim, quem não acertou sua equipe no Estadual, consequentemente encontrará dificuldade no Nacional, já que os jogos são disputados a cada três dias basicamente e em cidades distantes que exigem viagens longas, fazendo com que o tempo para treinamento passe a ser muitas vezes estritamente com objetivo de recuperar os atletas e não de melhorar os aspectos físicos, técnicos e táticos.

O planejamento tem que ser feito de uma maneira muito detalhada, atento a todos os fatores que podem fazer com que o trabalho não tenha êxito durante o campeonato.

Uma proposta de jogo bem definida é fundamental para que a equipe consiga ter uma evolução mesmo com tempo de treino bastante reduzido. Somente dessa forma será possível conseguir resultados, considerando todos os fatores que vão acontecer durante a competição: as lesões, os cartões, e até mesmo a saída de jogadores, podem dificultar ainda mais a preparação, e principalmente, a evolução da equipe na competição.

Os técnicos não podem mais ficar pensando onde vai ser o jogo, se em casa ou fora, contra qual adversário - é necessário à equipe ter uma proposta de jogo definida e conseguir que todos os jogadores do elenco estejam integrados nessa proposta. Assim, a qualquer momento que houver necessidade de troca de jogadores por algum motivo, a equipe mantém o nível de jogo e desempenho durante as partidas.

Passamos então a considerar o lado teórico do futebol um novo caminho para os técnicos conseguirem fazer com que suas equipes assimilem as suas ideias e consigam ganhar tempo - o que não se tem mais para ir ao campo.

Em toda e qualquer viagem que for possível ter acesso a uma televisão e um aparelho de DVD deve ser aproveitada de forma a passar informações para os jogadores, e estes também tem de aumentar a capacidade de auto-análise, de estudo e leitura de jogo, fazendo com que todos estejam numa mesma linha de raciocínio, facilitando as correções e melhoras do ataque e defesa da equipe.

A preocupação tem que ser primeiramente com a sua equipe, sendo organizada na defesa e no ataque. Juntando com a qualidade dos jogadores, conseguirá enfrentar todos os adversários de diferentes níveis com a mesma qualidade e consistência, seja jogando em casa ou fora, ficando o fator torcida como motivação somente para somar e não fazer a diferença. A diferença tem que ser o futebol apresentado dentro de campo.

O treinamento teórico passa a ser fundamental. Informações com recursos audiovisuais, explorando um dos cinco sentidos do ser humano que é o visual. O atleta terá que se acostumar com essa nova forma de treinamento para compensar a falta de tempo de ir para o campo treinar de forma prática.

Por isso toda forma de jogar e se posicionar terá que estar muito bem definida, para que os técnicos consigam realmente fazer correções no ataque e na defesa através das aulas teóricas e analises com os DVDs.

É apostando nessa nova maneira de treinar que os técnicos, juntos com os jogadores, vão superar a falta tempo, deixando as desculpas pelas derrotas para a falta de proposta de jogo, ou até mesmo por alguns momentos de desatenção, onde uma bola parada leva uma equipe à vitória.

Artigo: “A PREPARAÇÃO DO GOLEIRO DE FUTSAL”
INTRODUÇÃO
Na preparação dos atletas de uma equipe de futsal, o goleiro requer um treinamento diferenciado. Isso está explicito nas suas ações de jogo, nas exigências físicas e técnicas durante o uma partida de futsal, fazendo-o merecedor de uma atenção especial para que a sua performance seja aumentada. Como encargo, o goleiro tem a incumbência de guarnecer a sua meta do poder ofensivo da equipe adversária, travando, muitas vezes, notáveis confrontos com esses atletas. Para tanto, o goleiro faz uso de suas mãos e pés para efetuar a defesa dentro da área, bem como, passa a ser um quinto atleta de linha em uma ação ofensiva para marcar gol na meta adversária. Assim sendo, defendemos que o goleiro necessita de uma atenção especial, de um “treinamento personalizado” e de uma orientação diferenciada para poder servir à sua equipe com qualidade e segurança. Por esse motivo, o “profissional” incumbido de prepará-lo deve ter seu método de treinamento inserido no domínio de cinco pontos imprescindíveis.


1. ASPECTO AVALIATIVO: avaliação diagnostica da potencialidade física e técnico do atleta a ser trabalhada durante a sua preparação;

2. ASPECTO FÍSICO: análise das qualidades físicas avaliadas e que devem ser aprimoradas com o treinamento;

3. ASPECTO TÉCNICO: análise das qualidades técnicas avaliadas e que devem ser aprimoradas com o treinamento;

 4. ASPECTO TÁTICO: análise e orientação visando corrigir os problemas relacionados à incumbência tática do goleiro durante o jogo;

5. ASPECTO PSICOLÓGICO: preparo e fortalecimento pontos cognitivos que possam aumentar a performance do atleta. Esses aspectos da preparação do goleiro de futsal englobam uma gama de conteúdo, possíveis de se escrever um livro. Assim sendo, para o desenvolvimento desse artigo optamos pelo conteúdo relacionado ao “ASPETO TÉCNICO” da preparação do goleiro que, devido à função no jogo, deve ser treinado para não errar e, no caso de erro, deve estar preparado para encará-lo com serenidade a ponto de que não interfira em sua performance no jogo.

ASPECTO TÉCNICO DO TREINAMENTO DO GOLEIRO DE FUTSAL
 1. POSICIONAMENTO
No futsal o posicionamento do goleiro representa no mínimo 60% dos requisitos para que o atleta seja um bom goleiro. A segurança no posicionamento é o reflexo do aprimoramento da noção espacial em relação à meta defendida. Essa noção espacial se desenvolve via a orientação e o treinamento específico prescrito pelo profissional da área, o que pode diminuir significativamente os índices de gols falhos, tidos como defensáveis. A respeito do posicionamento do goleiro, é importante mencionar que:
 a) o goleiro deve ficar sempre de frente para a bola;
b) o goleiro deve se posicionar no meio do gol em relação às balizas e a bola;
 c) em chute lateral, o ângulo em relação à baliza de referência (baliza de fora em relação ao chute) deve ser bem fechado;
d) em chute frontal, o ângulo do adversário deve ser diminuído com o avanço imediato do goleiro;
 e) em escanteios, junto à baliza de referência, deve posicionar o atleta da “base” e orientá-lo para que a bola não passe entre as suas pernas;
f) nas faltas, ele deve estar atento as seguintes situações: - próximas à área, se posiciona perto da barreira e orienta o “base”; - média distância, se posiciona fechando o ângulo e orienta o “base” e o “sobra” a respeito do posicionamento dos adversários; - longa distância, fica mais adiantado em relação à sua meta e orienta a marcação.

2. REBOTES e DESVIOS
 Um goleiro bem posicionado poderá desviar a bola para diversas direções, o que evita que se leve um gol por imprudência técnica. Na verdade, é inadmissível que a equipe adversária faça um gol proveniente de um rebote mal planejado ou por um desvio impróprio do goleiro. Para tanto, o goleiro deve ficar atento à três situações que acontecem com freqüência durante o jogo.
 a) Chute Frontal: o posicionamento do goleiro adiantado em sua meta, facilita o desvio da bola para cima ou para trás, para o seu lado direito ou esquerdo, visando sempre transferir a bola na direção da linha de fundo;
b) Chute Lateral: o posicionamento do goleiro na linha de sua baliza de referência irá facilitar o desvio da bola para cima ou para fora da quadra em relação à linha de fundo;
 c) Rebotes para frente: recomenda-se que o rebote efetuado para frente seja feito para o alto, com força para que a bola possa ser transferida o mais longe possível da meta defendida, o que possibilita o retorno da marcação.

 3. PEGADAS
A pegada é um fundamento técnico que inicia com um bom posicionamento do goleiro e que da segurança à sua equipe durante o jogo, além de criar várias oportunidades de puxar contra-ataques – esse tido como um dos meios mais eficazes de se fazer gol. Nesse sentido, o goleiro deve estar atento às seguintes situações:
a) na movimentação do adversário que tem a posse da bola e na trajetória da mesma em relação ao seu corpo e à sua meta defendida;
 b) atento ao potencial de finalização da equipe adversária antes do início do jogo – quem coloca a bola, quem chuta forte, etc;
 c) no piso da quadra adversária para não ser surpreendido com imprevistos – piso escorregadio, piso que prende, piso defeituoso, etc; Para facilitar o trabalho da técnica da pegada pelo goleiro, divide-se esse movimento defensivo em três ponto básicos:

 1) chute alto – a técnica segura requer que as mãos estejam formando um triângulo (indicadores e dedões) para que a bola não deslize no contato com os dedos;

2) chute médio – a bola é encaixada na altura do peito ou no abdômen com uma semi-flexão dos joelhos para garantir o equilíbrio na defesa;

 3) chute baixo – a bola pode ser defendida com semi-flexão dos joelhos ou com o afastamento das pernas lateralmente, o que requer flexibilidade e a correta utilização das mãos na defesa (formato de uma concha).

4. LANÇAMENTO COM A MÃO
 O lançamento com a mão é um fundamento que requer além de muita atenção, uma técnica apurada. O lançamento perfeito é um resultado da técnica, força e precisão; por isso, requer muito treinamento para se chegar ao alto nível. Toda bola que tem a procedência do goleiro, não pode acarretar um contra-ataque à equipe adversária. Para tanto, o goleiro deve dominar alguns itens tidos como primordiais à qualificação desse fundamento.
a) leitura de jogo: saber ler o sistema defensivo da equipe adversária para melhor tirar proveito em suas investidas;
b) visão de jogo: saber orientar a movimentação de seus colegas para levar vantagem sobre os pontos fracos observados;
 c) domínio da técnica: utilizar da melhor maneira possível a técnica do lançamento para poder servir seus colegas com qualidade; Para melhor trabalhar a técnica do lançamento nos atletas, nós dividimos esse fundamento em 4 tipos básicos:

 1) lançamento baixo: busca-se um lançamento rasteiro e sem efeito, objetivando facilitar domínio sob pressão do marcador e ou tabelas rápidas. O lançamento baixo deve ser feito sempre no lado oposto do posicionamento do seu marcado – exige atenção pelo goleiro;

 2) lançamento alto: deve ser efetuado preferencialmente na altura do peito do colega, o que facilita o domínio e a finta de corpo mediante a abordagem do marcador, deve-se observar o posicionamento do adversário para evitar antecipações, devendo o lançamento ser feito sem efeito – exige precisão e visão de jogo;

3) lançamento à gol: é o lançamento forte, que busca o desvio de cabeça do seu colega posicionado dentro ou na frente da área adversária. Esse lançamento geralmente é utilizado em quadras pequenas, requer muita força e precisão por parte do goleiro e domínio da técnica do cabeceio pelo colega – exige força, precisão e leitura de jogo;

 4) lançamento de contra-ataque: visa lançar a bola no espaço vazio no setor ofensivo para que o seu companheiro que se movimenta em velocidade, possa dominar a bola arremessada sem muita dificuldade - exige controle da força e precisão no ponto futuro da quadra onde o seu colega a dominará.

 5. LANÇAMENTO COM O PÉ
 O lançamento com o pé requer muito treinamento para que a técnica seja apurada. A precisão da bola lançada é fundamental, pois não pode gerar a possibilidade de um contra-ataque à equipe adversária. Para tanto, o goleiro deve ter domínio sobre algumas situações que acontecem no jogo: 

a) leitura de jogo – conhecer as qualidades do goleiro e defensores adversários para poder utilizar com melhor maestria esse fundamento durante o jogo; 
b) visão de jogo – saber orientar a movimentação de seus colegas diante dos pontos tidos como vulneráveis no sistema defensivo da equipe adversária; domínio da técnica – aumenta a possibilidade de um melhor aproveitamento desse fundamento durante o jogo.

Para o desenvolvimento desse fundamento técnico, dividimos o lançamento com o pé em três tipos básicos: 1) lançamento em parabólica: caracteriza-se pelo ato de lançar a bola ofensivamente com efeito prévio, em curva do meio para fora, procurando evitar uma possível antecipação do goleiro adversário – muito usado em quadras maiores;
2) lançamento com peito do pé: caracteriza-se pelo ato de lançar a bola ofensivamente sem efeito, com força e em linha reta, objetivando uma finalização de cabeça pelo colega que se encontra nas proximidades da área adversária ou uma jogada de ataque mais veloz – muito usado em quadras pequenas; 
3) lançamento de cavada ou gancho: caracteriza-se pelo ato de lançar a bola no espaço vazio para armar um ataque com precisão – muito usado quando o goleiro sai para jogar com os pés no setor ofensivo.

6. CHUTE 
O goleiro pode, em determinados momentos do jogo, tornar-se um quinto atleta de quadra, o que exige qualidade de passe e um chute efetivo durante as suas investidas. Toda e qualquer investida do goleiro deixa a sua meta desguarnecida, evidenciando uma maior importância a respeito do apuramento da técnica para que qualquer incidência de erro seja minimizada. São nessas ocasiões que a maioria dos jogos se decidem. Para tanto, visando uma melhor preparação técnica desse atleta, a técnica do chute foi dividida em 3 tipos: 1) chute à gol – caracterizando-se pela ação do goleiro em chutar a bola na direção do gol adversário com o intento de fazer o gol, de forma direta ou sob desvio, podendo ser efetuado com o “peito” do pé ou de “bico” – chute do meio da quadra ou no ataque; 
2) chute baixo – caracteriza-se pela ação do goleiro em chutar a bola rasteira na direção do colega que se posiciona nas proximidades das balizas do goleiro adversário, com o intuito de que ele possa desviá-la para o gol (parte do princípio de que o goleiro se adiante para fazer a defesa do chute desferido à sua meta, abrindo espaços para que algum atleta se movimente por trás dele, no fundo da quadra); 
3) chute alto – caracteriza-se pela ação do goleiro em chutar a bola alta em “voleio” ou “sem-pulo”, de sua área em direção à meta do goleiro que está atacando, visando faze-la entrar no gol antes que ele possa retornar à sua área de defesa – chute de longa distância efetuado quando o goleiro adversário sai para jogar com os pés no setor ofensivo. 

7. SAÍDA DO GOL 
A saída do gol é uma ação do goleiro para fechar o ângulo e impedir que o atacante consiga fazer o gol. Esse fundamento requer do goleiro atenção à alguns pontos importantes: 
a) coragem para se jogar nos pés do adversário que esteja de posse da bola nas proximidades da área;
b) posicionamento para que sua investida tenha êxito;
c) tempo de bola para evitar surpresa no “bote” ou que os espaços não sejam fechados adequadamente na sua saída;
d) velocidade de reação para que o movimento “viso-motor” seja feito com precisão a ponto de impedir o gol em sua meta; 
e) domínio da técnica e conhecimento prévio das características do adversário, evitando surpresas durante o jogo. Além disso, a saída do goleiro de sua meta pode ser associada a três tipos básicos de deslocamentos, tais como:
a) saída com base – na saída com base, o goleiro procura diminuir o ângulo do adversário posicionando-se à sua frente com semi-flexão dos joelhos para frente ou para os lados, braços junto ao corpo e pernas juntas para fechar o chute baixo e médio do adversário, o tempo de bola possibilita uma defesa eficiente no chute alto;
a) saída no chão – nessa saída, o goleiro se joga em direção à bola nos pés dos adversários, podendo ser uma ação executada com os pés ou mãos, contudo, o tempo de bola deverá ser preciso – o erro no movimento pode impossibilitar qualquer recuperação na jogada;
b) saída no alto – nessa saída da meta, o goleiro procura interceptar uma bola lançada na direção da sua área, podendo ele dividir socando-a ou mantendo-a sob seu controle – depende muito da leitura de jogo e do tempo de bola.

8. COBERTURA 
O goleiro de futsal deverá estar atento e se colocar em posição privilegiada para orientar a defesa quanto ao melhor posicionamento e às necessárias coberturas. Para que suas coberturas sejam eficientes, o goleiro deverá estar atento às seguintes situações:
a) nunca ficar estático na sua meta quando há uma situação de ataque de sua equipe em direção da meta adversária;
b) conhecer as jogadas e movimentações adversárias;
c) na marcação pressão de sua equipe, sempre jogar mais adiantado; 
d) estar concentrado no jogo para poder antever o próximo passo do adversário e assim, orientar nominalmente os colegas para levar vantagem nas bolas lançadas; 
e) toda saída do gol em bola alta visando cobrir seus colegas, deverá o goleiro sempre avisá-los do seu movimento, para não ser surpreendido com uma bola atrasada. 

CONCLUSÃO 
Após esse compêndio delineando o desenvolvimento do “Aspecto Técnico” do treinamento do goleiro de futsal, concluímos que para o apuramento da técnica dessa atleta, é de estrema importância muito treinamento. O goleiro pode nascer com qualidades físicas e psicológicas para esse encargo, contudo, só o treinamento pode torná-lo um atleta de alta performance. Por outro lado, o treinamento para ser eficiente requer muita qualidade. A qualidade está inserida na capacidade individual do profissional responsável de saber “avaliar” o atleta para poder “prescrever” exercícios técnicos que o venham qualificá-lo. Para tanto, defendemos um treinamento físico-técnico, objetivando o aprimoramento técnico com o desenvolvimento da sua potencialidade física, imprescindível à alta performance. 

O domínio do “Aspecto Avaliativo” é primordial para o início do trabalho a ser prescrito. O “Aspecto Físico e Técnico” do treinamento procede da primeira análise e está inserido nas características físicas e técnicas individuais de cada atleta. No âmbito tático, observamos o domínio do “Aspeto Tático” para o melhor aproveitamento de sua técnica e do “Aspecto Psicológico” para melhor controle dos processos estressores e motivacionais individual. Assim, defendemos que o treinamento do goleiro de futsal não é apenas uma reprodução pragmática de exercícios reproduzidos, mas, um domínio de vários fatores que se inserem no aumento da performance. Saber o que fazer; saber por quê fazer; saber como fazer; saber para que fazer determinados exercícios físicos-técnicos é o prenúncio de uma preparação eficiente e de grandes resultados.

Fonte: CTGoleiros

9 de dez. de 2013

O treino de força no futebol é capaz de aumentar a velocidade ou a distância do chute?
O artigo abaixo foi escrito pelo PhD Jay Williams, professor da disciplina Ciências do Exercício da  Universidade Virginia tech, Estados Unidos. Dediquei meu tempo apenas para traduzí-lo. Assim, todos os interessados no assunto poderão aumentar seus conhecimentos em relação ao treino da força no futebol. Vale a pena separar um tempinho para a leitura completa do artigo. Deixo meus comentários sobre o texto no final deste post.
Título original: Can strength training improve kick velocity or distance?

No futebol, um passe longo e de qualidade é extremamente importante. Goleiros, jogadores da defesa e do meio campo frequentemente cobram tiros livres e realizam passes longos, onde um bom chute é necessário. Ainda, se nós adicionarmos o fato dos atacantes precisarem ter um chute forte para aumentar as chances de marcar um gol, fica fácil entender por que a velocidade e a distância do chute são cruciais para o sucesso. No entanto, este aspecto de jogo (chute) do atleta pode ser aumentado? A força e a potência dos membros inferiores são importantes em vários movimentos no futebol, tais como o sprint, uma parada brusca, um salto, etc. Então, poderia o treino da força, o qual aumenta a força e a potência, ser benéfico para o chute do jogador?

Em um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Nevada, Las Vegas, jogadoras de 13 e 14 anos foram utilizadas como amostra. Elas foram separadas em dois grupos e ambos eram similares em relação a habilidade, experiência e treinamento. O grupo 1 (placebo) foi submetido ao programa regular de treino. O grupo 2 (grupo pliométrico) participou do treino regular de futebol e também de um programa de treinamento pliométrico uma vez por semana.

Durante as 6 primeiras semanas, foi realizado um treinamento pliométrico de baixa intensidade involvendo vários tipos de saltos com uma e duas pernas sobre pequenas barreiras de 15 e 25 centímetros. Da semana 8 até a 14, foram incluídos saltos em profundidade (caixa de 25 centímetros) e exercícios com cônes. Ambos os grupos realizaram dois testes antes do início da pesquisa: distância de chute e salto vertical. Foram realizados re-testes nas semanas 7 e 14.

Os resultados demonstraram que, ao final de 7 semanas, o grupo 2 (grupo pliométrico) aumentou em 10% a distância do chute e, após 14 semanas de treino, o aumento chegou a 27%. No grupo 1 (placebo), foi constatada uma diminuição na distância do chute ao longo da pesquisa. O treino pliométrico também melhorou o salto vertical das atletas. O grupo 2 apresentou um incremento no salto de 8% e 19%, após 7 e 14 semanas de treino, respectivamente.

Portanto, os resultados do estudo desmontraram que um programa de treinamento pliométrico de baixa intensidade realizado uma vez por semana é capaz de aumentar a distância do chute e o salto vertical em meninas adolescentes. O que mais impressiona é o fato de se tratar de um programa de baixa intensidade e que foi realizado apenas uma vez por semana. E, mesmo assim, os ganhos de potência e distância de chute são significativos, o que indica que o treino pliométrico pode ser bastante interessante para meninas adolescentes.

Pesquisadores da Universidade de Ballarat, Austrália, realizaram um estudo de revisão de literatura sobre o treino de força e chute no futebol. Eles descobriram que a maioria dos trabalhos apresentam resultados similares, ou seja, treino de força geral e pliometria específica aumentam a potência dos membros inferiores, bem como a velocidade e distância do chute. Esses aumentos podem ocorrer devido aos incrementos na potência dos flexores do quadril e, em menor grau, na musculatura extensora do joelho (quadríceps).

Há estudos que relatam que o treino de força não é capaz de melhorar a velocidade ou a distância do chute no futebol.  Geralmente, esses estudos tiveram como amostra jogadores de elite (adultos). Em jogadores profissionais é mais difícil observarmos grandes incrementos na performance, pois eles já se encontram no alto nível e há muito pouco espaço para aumentar ainda mais a performance, principalmente no decorrer de 12 a 14 semanas. Porém, com atletas jovens e menos experientes, o treinamento de força parece ser benéfico.

O treinador deve tomar algumas medidas de precaução quando focar o treinamento buscando o aumento da força do chute. Deve-se treinar a musculatura dos extensores do joelho, mas, ao mesmo tempo, exercícios para a musculatura dos flexores do joelho se faz necessário para minimizar os riscos de lesão nesta articulação. Um dos principais fatores causadores de lesão do ligamento cruzado anterior é o desequilíbrio muscular entre as musculaturas extensoras e flexoras do joelho.

Um outro fator importante que não podemos deixar de citar é que essas pesquisas mantiveram o foco apenas na velocidade e distância do chute. Elas não se preocuparam com a precisão do chute. Porém, os pesquisadores australianos afirmam que há uma relação inversamente proporcional entre velocidade e precisão. Em geral, quando a velocidade do chute aumenta, a precisão diminui. Segundos os estudiosos, há uma velocidade de chute sub-maxima na qual a precisão pode ser mantida. Acima disso, a precisão é afetada.

Finalizando, quando se trabalha com jovens atletas, um treinamento de força que inclui pliometria pode ser benéfico para a performance não apenas por aumentar a velocidade do chute, mas também porque melhora outros aspectos da performance no futebol e reduz o risco de lesões.

Meus comentários:

Se eu tivesse que resumir todo o texto em uma só palvara, eu utilizaria a palavra  EQUILÍBRIO. Pelo que pude verificar, o treinamento de força (incluindo pliometria de baixo impacto), quando bem estruturado, pode sim ser bastante benéfico para os jovens atletas. Equilibrio muscular é a chave para o sucesso. Quando se trabalha com cetegorias de base é sempre bom deixar um pouco a performance de lado e pensar um pouco na formação do atleta. Sempre que planejo um treino de força para jovens meu objetivo principal é a prevenção de lesão. Os aumentos de força são uma consequência e eu os considero como objetivos secundários.
Outro aspecto do texto que eu destacaria é o fator “precisão do chute”. De que adianta aumentar a velocidade do chute ao extremo se meu chute não vai na direção que eu quero? Como diz o ditado popular: “tudo demais é veneno”. Há um momento em que os aumentos na velocidade do chute deixam de ser benéficos, pois o chute não é preciso, não atinge o alvo desejado. É necessário saber dosar velocidade e precisão. Mais uma vez a palavra “equilíbrio” aparece como ponto chave.


Referências:
RUBLEY, M.D. HAASE, A.C., HOLCOMB, W.R, GIROUARD, T.J, TANDY, R.D. The effect of plyometric training on power and kicking distance in female adolescent soccer players. Journal of Strength and Conditioning Research, 25: 129-134, 2011.
YOUNG, W.B, RATH, D.A. Enhancing foot velocity in football kicking: the role of strength training. Journal of Strength and Conditioning Research, 25: 561-566, 2001.

Fonte: PabloFeitoza

Futebol: canhões em campo
Chutar a bola a mais de 100 quilômetros por hora é um talento que consagra apenas um punhado de jogadores. A ciência explica como eles conseguem essa proeza.


Cinco homens enfileirados aguardam tensos o momento do tiro. A onze passos o adversário concentra-se, reunindo todas as energias em único ponto, para a seguir liberá-las em uma explosão. Os espectadores viram rapidamente a cabeça tentando acompanhar a trajetória do projétil, que passa sobre os homens alinhados. O estrondoso grito de gol, que irrompe então de milhares de gargantas, encerra mais um fuzilamento de sucesso. O super chute do jogador de futebol, como nessa cobrança de falta, equivale a uma aceleração da bola a mais de 100 quilômetros por hora em décimos de segundo e costuma gerar acaloradas discussões - ou costumava, antes do advento do slow-motion (câmara lenta) na TV. Tudo acontece depressa demais e é provável que ninguém saiba descrever com exatidão o que se passou diante dos próprios olhos. Mesmo os jogadores às vezes têm dificuldade para dar uma resposta satisfatória.

O superchute, de resto, não é para qualquer um. Dos mais de 14 mil profissionais de futebol do país, os “canhoteiros”, como são chamados os chutadores mais potentes, como Gilberto Costa e Neto, que disputaram o Campeonato Paulista pelo Corinthians e Palmeiras, respectivamente, ou ainda Éder, do Atlético Mineiro, constituem apenas um seleto grupo. A medição precisa do desempenho físico dos atletas, prática comum em muitos clubes, a exemplo do São Paulo, faculdades e até no Instituto do Coração (Incor) em São Paulo, indica que esses jogadores dispõem de uma potência devastadora.

Seria de esperar que qualquer jogador de futebol bem treinado pudesse ter um chute que propelisse a bola à velocidade de um carro numa estrada, mas não é o que ocorre. A força muscular, a resistência, a boa forma física e a eficácia nos chutes a gol são itens obrigatoriamente trabalhados nos programas de treinamento que visam a aumentar o rendimento de qualquer jogador. Por que, então, só uns poucos se destacam como canhoneiros? Todo jogador, por mais que melhore, tem seus limites. Aumentar o volume dos músculos por meio de exercícios com pesos, por exemplo, não aumenta, de forma alguma, a potência do chute. Isso é explicável pelos modernos conhecimentos de anatomia. Sabe-se que um músculo se compõe de três tipos de fibras: as rápidas, as lentas e as intermediárias. Cada uma delas tem propriedades muito diferenciadas.

As fibras lentas tendem a ser mais curtas e vermelhas, responsáveis pelo rendimento contínuo, sendo as mais usadas pelos maratonistas, por exemplo. Em compensação, uma ação repentina, como um chute de arrebentar redes, requer músculos rápidos, capazes de se contrair em frações de segundo. A maior parte da energia provém, nesse caso, da combustão anaeróbica (sem consumo de oxigênio) de açúcar, que a libera quase como uma explosão. Portanto, um disparo potente depende, sobretudo, da velocidade de contração dos músculos rápidos. Além da constituição das fibras musculares, também o número de nervos que acionam os músculos ajuda a determinar a velocidade do movimento. Quanto mais numerosas as terminações nervosas em cada grupo de fibras, mais eficiente será a ação.

"Uma aptidão especial é o segredo dos profissionais de superchute", ensina o professor de Educação Física, Alberto Carlos Amadio, da Universidade de São Paulo. Ou seja, a velocidade de contração do sistema muscular desses jogadores é extremamente alta. Esta capacidade suplementar é algo com que não se pode competir nem imitar - eles já nasceram com músculos super-rápidos. Isto não significa que um jogador de chute médio deva resignar-se. Um bom programa de treinamento pode aumentar consideravelmente a potência do chute de qualquer atleta. Para tanto, é necessário exercitar as fibras rápidas; por exemplo, com séries de corridas curtas seguidas de chutes a gol. O resultado é um robustecimento dessas fibras, que armazenam assim mais energia, além da gradual transformação das fibras intermediárias em rápidas. O programa, é claro, não consegue aumentar o número de nervos em cada músculo, definido geneticamente, mas pode ativar as terminações nervosas fora de uso por falta de exercício. O treinamento pode conseguir, ainda, que uma porcentagem muito alta de fibras se contraia de modo simultâneo (coordenação intramuscular), o que mais uma vez tem como conseqüência uma alta aceleração.

Um fato decisivo que costuma ser levado em conta é que quase toda a musculatura do corpo se põe em ação no momento do chute, por meio de "alças" opostas de contração e distensão. A perna com a qual se chuta tem somente uma fração da energia necessária para o disparo. A bola oficial de futebol, que pesa aproximadamente 450 gramas, é acelerada até alcançar uns 120 quilômetros por hora. A tremenda descarga de energia envolvida no ato, assim, só obtém o resultado máximo quando o movimento está coordenado de forma ótima.

Mas não é só a Biologia que impõe limites à arte do superchute. As leis da Física, naturalmente, também contam. Isso significa que o jogador não pode sonhar com técnicas de golpear a bola que contrariem as regras do movimento dos corpos. Cabe-lhe, isto sim, carregar o corpo com a maior quantidade de energia possível, o que ocorre quando toma impulso na corrida. Se ele já não vier correndo pelo campo a toda velocidade, convencionou-se que pelo menos cinco passos são recomendáveis.

Pouco antes do chute, quando o jogador coloca a perna de apoio junto à bola, diminui a velocidade e todo o corpo estira-se para trás como um arco pronto a disparar uma flecha. Mais do que a velocidade do impulso, essa tensão prévia é requisito importante para uma explosiva contração muscular no chute. Os músculos do estômago se contraem rapidamente e catapultam a perna que dispara para a frente como um relâmpago. Outra conclusão das pesquisas é que também o músculo reduz a velocidade alguns décimos de segundo antes do contato com a bola. A freada repentina faz com que a perna à altura do joelho, agora retardada, se lance como um chicote. Num chicote de verdade, o estalo é resultado da enorme velocidade da ponta da tira de couro, no momento do seu retrocesso. A comparação não é descabida, pois o peito do pé golpeia a bola durante 5 a 10 milésimos de segundo, acelerando-a instantaneamente.
A violência da "patada" que catapulta a bola equivale à energia necessária para movimentar 300 quilos. A perna do chute é incapaz de suportar mais nestas frações de segundos. E assim deve ser. Se, por qualquer motivo inexplicável, o peso da bola diminuísse repentinamente, a potência do choque se multiplicaria e a perna não agüentaria as conseqüências, ficando com os cordões musculares estirados e até ossos estilhaçados.

Os pesquisadores do futebol descobriram que o psiquismo do jogador também influencia os músculos do seu corpo. Na ação, alguns deles se contraem (alça de contração) e outros se estiram. Fala-se, então, de ligamentos musculares, nos quais os diferentes músculos cooperam de uma forma complexa. No superchute, os músculos passivos reagem de forma especialmente elástica, não freando os músculos ativos, que aceleram a perna do disparo.

O receio de machucar-se ou a grande responsabilidade diante de um gol que talvez decida a partida podem provocar uma contração involuntária nos músculos, que assim deixam de estirar-se com rapidez suficiente. As alças musculares se põem mutuamente fora de serviço nos décimos de segundo decisivos. O bloqueio psicológico raramente pode ser explicado pelos jogadores ou treinadores. As vezes passam semanas até que a crise seja superada, da mesma maneira que chegou. O craque das copas de 74 e 78 e atual deputado estadual em Minas Gerais, Nelinho, deu um bom exemplo de superação desse tipo de bloqueio após operar o joelho e a coluna no auge da carreira. Ele prometeu - e cumpriu - que chutaria uma bola para fora do estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, a uma altura de mais de 25 metros. O jogador Rivelino, outro chutador forte contemporâneo de Nelinho, conhecido como "patada atômica", não se lembra de já ter se machucado em campo e atribui sua resistência ao futebol de rua, praticado desde a infância. O certo é que, por mais que o talento para o superchute seja inato, craques do passado e do presente como Pepe, Jair, Gérson, Éder ou Gilberto Costa também precisaram suar muito a camisa em treinos de coordenação física e psicológica.